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13/03/2023 às 09h50min - Atualizada em 13/03/2023 às 09h50min

ALAGOAS NA ROTA DO CINEMA

Mulheres no protagonismo de uma produção nacional rodada em Alagoas

Miguel Conceição

    Antes de iniciar sobre o assunto principal deste artigo, que é o protagonismo feminino numa produção cinematográfica em terras alagoanas, como parte de uma série de textos de homenagem no mês das mulheres, quero fazer um brevíssimo aporte historiográfico sobre a natural propensão de Alagoas para o cinema. 

 

     No ano de 1895, o cinematógrafo (CINEMA, a contração desse termo), a invenção dos irmãos fotógrafos Auguste e Louis Lumière, fez sua primeira projeção para uma platéia estupefata em um café de Paris. Vindo assim, em aproximadamente um ano, meados de 1896, desembarcar no Brasil e fazer sua exibição na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro.

 

    No contexto de Alagoas, o cinema vai chegar no ano de 1908, portanto apenas 13 anos depois da invenção da Sétima Arte. O cientista social Manuel Diegues Júnior, pai do cineasta Cacá Diegues, deixa um registro escrito sobre essa primeira exibição do cinema em Alagoas em que foram projetados os filmes “Vendedor de Melancias” e “Beijos de Safo”. A história também registra o pioneirismo de um italiano chamado Guilherme Rogato, o qual chega ao nosso estado para “retratar a região” com seus equipamentos. O primeiro longa-metragem alagoano vem pelas mãos de um pernambucano, Edson Chagas, com o filme “Um bravo do Nordeste”, lançado em 1931. Obra esta que se encontra hoje perdida. 

 

   Entre um hiato e outro, com muitas dificuldades, segue-se uma história de muito heroísmo de uns poucos que se aventuram pela feitura hercúlea do que é fazer cinema em nosso Estado. Temos na nossa história exemplos bem sucedidos como o filme alagoano intitulado Cavalo, de Werner Salles e Rafhael Barbosa, que em 2022 entrou na disputa para ser o representante brasileiro no Oscar. Outra produção alagoana que fez bonito no Tietê Internacional Film Awards em São Paulo foi  o filme Dois cabras do cineasta Allex Walker, o qual levou o prêmio de melhor curta da Mostra Sururu e indicado ao prêmio de melhor ator para Allan Cardoso em Cannes. Alagoas sedia o Festival de Cinema Brasileiro, retomado em 2016 depois de um longo tempo parado, na cidade de Penedo e uma outra iniciativa mais recente, a partir de 2009, a Mostra Sururu de cinema em Maceió, da Associação Brasileira de Curtametragistas e Documentaristas, seção Alagoas.

 

    Também há o orgulho de termos como conterrâneo nosso o ilustre cineasta Cacá Diegues, o qual tive a oportunidade de conhecer em uma audição. Este que é um dos expoentes fundadores do chamado Cinema Novo, nos orgulha e nos brinda com mais uma sequência do Filme Deus é Brasileiro, rodado em Alagoas e tendo como protagonista a paradigmática atriz alagoana Ivana Iza. E nossa Ivana também está presente no elenco do filme do alagoano René Guerra Serial Kelly, estrelado por Gaby Amarantos e filmado neste Estado.

 

    Cumprida essa breve introdução sobre o cinema em Terras Caetés, passo a falar de uma outra produção que teve cenas rodadas parte em Alagoas, parte em outros lugares do Brasil, como o Rio de Janeiro, Paraíba (Monte Horebe), São Paulo e Ceará. Trata-se do longa-metragem Zumbi Quilombo dos Palmares do cineasta, também alagoano, Lula de Oliveira, radicado há anos no Rio. Esta produção teve pré-estreia em São Paulo no dia 20 de janeiro de 2023 no MIS - Museu da Imagem e do Som - e irá estrear no Rio de Janeiro, no dia 25 de março no espaço da ABI - Associação Brasileira de Imprensa. Conta também com a participação especialíssima H.R.H Obá Dr. José Mendes Ferreira Geleju Adelabu III,  Tetraneto de Zumbi dos Palmares, bem como dos globais Mário Gomes e Flávio Galvão.

 

    O filme Zumbi Quilombo dos Palmares é um trabalho de muito esforço e artesanalidade, dado os percalços vividos até sua conclusão.  Sendo uma obra que possui uma narrativa que “pega o público” não pela linearidade cronológica dos fatos históricos, mas pela peculiar forma de contar a história questionando-a sempre. Cabe curiosidade e polêmica.

 

    Um dos pontos altos do filme é a grande quantidade de mulheres participantes e a pujança de suas histórias retratadas. Durante as filmagens na Serra da Barriga e em Atalaia, este que vos escreve, teve a oportunidade de conviver com algumas dessas mulheres de grandeza comparável aos seus personagens. 

 

   No afã de concluir da obra, mesmo passando percalços e privações como lama, chuva que atrapalhava as cenas, um carro que quebrava e atolava, um transporte que não chegava, as filmagens seguindo noite a dentro e até a fome, todos esses elementos aparentemente contrários ao andar das filmagens, funcionaram como aliados ao drama dos personagens com histórias infinitamente mais sofridas que o que as atrizes estavam passando.

 

    Nessa contextualidade de força dessas mulheres artistas, como esquecer do sorriso da famosa Selminha Sorriso, a porta-bandeiras da Escola de Samba Beija-Flor que dá vida ao personagem Xica da Silva? Ela realmente faz jus ao nome: o seu sorriso foi de fato uma leveza na árdua façanha de realização deste filme.

 

     Ou como não lembrar da atuação, como produtora e atriz, por parte da gigante Márcia Mística? Ela que nos intervalos das gravações estava sempre atenta aos contatos, preparando tudo para que as burocracias não atingissem os atores, cuidando das nossas hospedagens na pousada, nossos horários e apoio até psicológico. Tudo com sua voz sempre doce.

 

     Outra que também se destacou por sua proficiência técnica e produtiva, foi a atriz e produtora Márcia Alves. Versátil e ágil nas ações, se desdobrava em duas para fazer o par romântico de escravizada com o meu personagem Armódio e trabalhar na produção do filme. Ela foi um grande elo artístico que muito enriqueceu e me apoiou na construção do meu personagem.

 

    O filme conta também com a grande participação da simpaticíssima Atriz Suely Malta, veterana de grandes filmes internacionais, emprestando sua voz para produções como o “Um Príncipe em Nova York, seriados CSI Miami, Pose da Netiflix dentre outros de renome mundial. Essa, por sua beleza de ser, carrego no coração. Atriz sábia e de talento inigualáveis com a qual aprendi muito.

 

      Outra das grandes mulheres que fazem parte deste filme é Luciana Lucas, que é responsável pela assessoria de imprensa do filme e ainda se desdobra em vários personagens deste. Isso além de está em mais uma produção que se encontra em andamento, o documentário Navio Negreiro submundo do inferno, com a Freira Carlota (com dupla personalidade). Dentre suas personagens múltiplas e versáteis figuram a Índia Zafira, a parteira amiga da mãe de Zumbi, uma escrava e uma cigana.

 

      O filme conta ainda com o apoio e assessoria internacional de Ana Paula Correia de Castro, produtora executiva internacional  do filme Navio Negreiro o Submundo do Inferno em Lisboa Portugal.

 

    Muitas são elas, muitos são os seus esforços, talentos, abnegação, entrega e conquista para que esta produção tenha chegado aonde chegou, apesar dos muitos percalços. E sem elas esta obra não teria o êxito e o resultado que veremos nos próximo dia 25 de março, na sala de projeção da ABI - Associação Brasileira de Imprensa. Viva o cinema alagoano! Viva o cinema brasileiro! Viva às mulheres! 

 

Ficha técnica:

 

Direção Geral Cineasta Lula de Oliveira 

Assessoria internacional: Ana Paula Correia de Castro

Produtora: BRTV/NAI

Link: https://www.youtube.com/@brtvbrasiltelevisao

 

Fontes: 

CABRAL, Otávio; FERRAZ, Ana Flávia. Arte em Alagoas: algumas reflexões. - Maceió: EDUFAL, 2013;

 

BARROS, Elinaldo. Panorama do Cinema Alagoano. 2 ed. Maceió: EDUFAL, 2010;

 

BRTV Ascom, Jornalista Luciana Lucas;

 

GOMES, Paulo E. S. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. São Paulo: Paz e Terra, 1996;

 

ROCHA, José Maria Tenório. Subsídios à historia da cinematografia em Alagoas. Maceió: DAV/SEC, 1974.

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