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05/07/2022 às 10h24min - Atualizada em 05/07/2022 às 10h24min

Reflexões sobre a pandemia na sociedade

Desafios para gestores e profissionais

Tereza Tenório TRAVESSIA: Cidades que promovam Saúde Mental.

Tereza Tenório TRAVESSIA: Cidades que promovam Saúde Mental.

TRAVESSIA: Cidades que promovam Saúde Mental.

Nos próximos artigos trago algumas reflexões sobre os impactos da pandemia na saúde mental das pessoas e os desafios para fazermos a travessia de uma cidade que viveu momentos de isolamento, lutos e sofrimento mental para uma cidade que cuida dos seus munícipes em liberdade e promove saúde mental. No segundo semestre de 2021 fui chamada para implantar um serviço de cuidado em saúde mental pós-covid. Reuni profissionais, criamos protocolos, fluxos e estudamos como a pandemia afetou a vida das pessoas e as estratégias que os gestores e profissionais poderiam implantar para ampliar e fortalecer os serviços. A partir daí que discorro essas considerações. A pandemia trouxe sérias consequências humanitárias, sociais, econômicas, ecológicas e culturais. De fato, os efeitos sobre o campo da saúde mental são inquestionáveis. Antes mesmo da pandemia, a Organização Mundial de Saúde já alertava sobre a imperiosa necessidade de priorizar a saúde mental, diante dos aumentos dos casos de adoecimentos psíquicos, suicídios, vícios, depressão e ansiedade como problemas de saúde pública. Façamos então essas reflexões tendo como horizonte três pontos: o vírus com sua especificidade biológica, a pandemia com suas implicações nos diversos campos e as singularidades das pessoas que vivenciaram as experiencias. Quanto ao vírus, atentemos para o cuidado com o meio ambiente, com os biomas e com as condições climáticas, visto que os ataques ao meio ambiente têm acarretado pandemias com vírus cada vez mais específicos e desconhecidos. No campo da pandemia, analisamos como os governos conduziram o problema. Em nosso país foi criado um caos psíquico e social devido a dualidade entre o imperativo da vida e o imperativo da política neoliberal. Uma confusão entre o discurso do isolamento horizontal respaldado pela ciência e o isolamento vertical respaldado no negacionismo. Isso gerou incertezas nas pessoas, nas suas crenças e uma enorme confusão mental e nos processos de cuidado e autocuidado. Em se tratando das singularidades, pode-se dizer que a invisibilidade do vírus associada ao medo da morte e com as implicações sociais trazidas pela pandemia causaram diversas sensações na mente das pessoas. Sentimentos de desalento, desamparo, vulnerabilidade, angústia entre outros respaldados pela incerta e ineficiente condução do problema pelo Governo Federal que, nessa dicotomia, esteve e está ao lado do negacionismo. Nesse contexto ocorreram formações sintomáticas das neuroses, das síndromes do pânico, dos sintomas hipocondríacos, das depressões, dos rituais obsessivos-compulsivos, das compulsões alimentares e do uso abusivo de drogas, da agressividade latente. Houve sobrecarga de informações, do uso de tecnologias e, o isolamento social passou a ser adoecedor. E pensar que o isolamento ainda é utilizado como tratamento para pessoas em sofrimento psíquico... Reflitamos sobre isso! Estudos comprovam que após a pessoa experimentar a covid-19 permanecem consequências neurológicas e psiquiátricas nas pessoas. Observou-se doença neurológica ou psiquiátrica em 33,6% dos pacientes leves e em 46% daqueles que passaram pela UTI. Entre os sintomas e danos neurológicos, psiquiátricos e psicológicos mais observados, destacam-se: esquecimento momentâneo, nevoa mental, habilidades mentais prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas, mudanças comportamentais e emocionais, dificuldade de concentração ou de atenção, dificuldades com o julgamento e raciocínio, problemas com a compreensão ou entendimento insônia, depressão, ansiedade, desânimo, mau humor; irritabilidade, crise de pânico, estresse pós-traumático. Constata-se, em geral, que a população vivenciou situações que agravaram os processos de adoecimento mental existentes, bem como fizeram surgir novos casos de adoecimento mental. Situações como: prejuízo nas práticas de sociabilidade, ruptura dos laços afetivos e dos relacionamentos; perdas materiais como emprego, renda, moradia e perdas afetivas, agravadas pelo ritual do sepultamento e pelos processos de luto prejudicados; déficits educacionais, com escolas fechadas, aulas remotas e, grande parte dos estudantes sem acesso as tecnologias; crianças e adolescentes perderam seus pais e avós; idosos em risco; aumento dos casos de violência doméstica, contra mulheres e crianças, entre outras. Em se tratando dos serviços, houve suspenção, fechamento e diminuição do acesso. Se por um lado os usuários precisavam das portas abertas para cuidar de suas enfermidades ou para enfrentar a crise, do outro os profissionais limitavam o acesso para não criar espaços de contaminação com aglomerações. Em situações de desamparo as pessoas acreditam estar no outro a dimensão do cuidado. Recorrem aos serviços, aos terapeutas, aos governantes. Então, enquanto os usuários esperavam encontrar o cuidado ao seu desamparo nos serviços, os profissionais esperavam encontrar esse amparo nos gestores através de protocolos de segurança e EPIs para lhes garantir a vida. Como resultado tivemos dificuldades nos acessos, no fornecimento de receitas e medicamentos, nos atendimentos terapêuticos e, principalmente prejuízo na convivência com os pares dentro dos serviços. Diante desses desafios na atenção psicossocial que estratégias de cuidado podemos viabilizar? Buscarei no próximo artigo trazer mais algumas reflexões, mas um princípio é fundamental: o da travessia. Os serviços precisam repensar suas práticas, pois não há como reabrir as portas como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos vivido uma pandemia; e, aos governantes e gestores, cabe a urgência de priorizar a saúde mental, como preconiza a OMS, ampliando e fortalecendo a Rede de Atenção Psicossocial pautada no cuidado em liberdade.
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