Os prédios que desabaram na manhã desta sexta-feira (12) em Muzema, no bairro do Itanhangá, na Zona Oeste do Rio, foram construídos pela milícia, segundo a prefeitura. O chefe da milícia na região, segundo investigações do Ministério Público, é o major Ronald Paulo Alves Pereira, um dos alvos da
operação Os Intocáveis, preso no início do ano.
Os criminosos dominam a venda de imóveis irregulares na região — além de praticar agiotagem e venda ilegal de serviços como luz, gás e TV a cabo. O major também é investigado por envolvimento no
Escritório do Crime — grupo de matadores profissionais suspeito de executar várias pessoas no Rio.
O Ministério Público investiga se o Escritório do Crime tem relação com o caso do assassinato da vereadora
Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Quando Ronald foi preso, investigadores disseram ao
G1 que a
prisão era estratégica para a resolução da investigação do caso Marielle.
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito das Milícias (CPI das Milícias) em 2008, o atual deputado federal Marcelo Freixo diz que o problema é antigo.
Ele diz que a grilagem de terras e a construção ilegal, desde aquela época, "sempre contou com a conivência das autoridades" e causou tragédias para os moradores de áreas pobres.
"Grilagem e construção ilegal sempre foram importantes fontes de renda para a milícia. Denunciamos isso há 10 anos, apresentamos propostas para combatê-las, mas autoridades responsáveis nada fizeram. Certamente porque as milícias transformam domínio territorial e econômico em domínio político e eleitoral", disse.
Anos antes de ser preso, o major Ronald foi
homenageado em 2004pelo deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que propôs uma moção de louvor a ele na Assembleia Legislativa do RJ (Alerj).
A Prefeitura afirma que os prédios que caíram eram irregulares e que mandou interditá-los, mas uma
liminar da Justiça impediu a demolição. Paralelamente, a Polícia Civil diz que a região é explorada pela milícia.
"Temos investigações na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente que essas organizações criminosas vêm atuando com grilagem, desmatamento, parcelamento irregular de solo e diversos crimes ambientais", disse o delegado Antonio Ricardo à TV Globo em outubro.