Professor emérito da Fundação Getúlio Vargas onde pesquisa e ensina teoria econômica e teoria política desde 1959. Foi Ministro da Fazenda (1987) e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-98). É doutor honoris causae pela Universidade de Buenos Aires
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Ele não tem mais condições de cumprir seu programa de governo, tem apenas que “segurar as pontas” para não sofrer processo de impeachment. Por exemplo, o governo Sarney terminou em 1987 quando o Plano Cruzado fracassou e ele decidiu ficar mais um ano no governo. Mais recentemente, teve o mesmo destino o governo Dilma: terminou em 2013 quando aconteceram as grandes manifestações de junho e sua popularidade foi para o abismo. Dada a grave crise em que está agora mergulhado o governo Bolsonaro, minha impressão é que também esse governo está terminado. Ele deverá ir até o fim do mandato, mas as elites econômicas e políticas e, ao mesmo tempo, uma boa parte de seus atuais apoiadores tirarão seu apoio a ele, e não haverá realmente governo.
A convocação que fez a seus eleitores para que compareçam a uma manifestação contra o Congresso no próximo dia 15 de março é um ato inaceitável. É incompatível com a condição de presidente da República e é razão mais do que suficiente para um impeachment. Mas não haverá impeachment agora porque ele ainda conta com apoio popular e porque uma parte das elites econômicas ainda acredita que ele realizará as reformas que elas desejam. Não creio, porém, que essas venham a ocorrer; não haverá clima para elas enquanto Bolsonaro comanda uma guerra contra o Poder Legislativo, contra o Poder Judiciário, contra os governadores dos estados, e contra a própria ordem pública - isto ao apoiar as greves das polícias militares e as milícias no Rio de Janeiro .
A sua aposta é que ele poderá provocar e desrespeitar os poderes instituídos da República porque tem apoio popular. Essa é a forma que ele pensa ter descoberto para manter o apoio popular. Mas esse é um engano. O respeito à lei e à ordem pública não é apenas uma demanda dos ricos, mas é uma demanda dos cidadãos – e ainda existem cidadão no Brasil.
Dei a esta nota o título “Adeus, governo Bolsonaro”, não porque a pessoa Bolsonaro está em vias de perder seu cargo, mas porque nós próximos três anos não haverá realmente governo no Brasil. Haverá Estado e haverá mercado, e a sociedade brasileira continuará coordenada por estas duas instituições, mas não haverá ninguém para governá-la e fazê-la progredir.