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05/01/2019 às 00h43min - Atualizada em 05/01/2019 às 00h43min

O HOMEM QUE SE TRANSFORMOU NUMA METÁFORA

Brenno Santos
Brenno Santos
Já passava do meio-dia. A metáfora, que costumava despertar às cinco horas, levantou e procurou a cama. Mas como? Onde está meu corpo? Observou, em vão, as palavras que o constituíam. Não eram palavras propriamente ditas, eram sentimentos. O espaço onde estava era abstrato. Não era mais necessária visão, apenas energia psíquica. Como ele sabia disso? Oh, acordou sabendo de tudo isso! Incorporou-se em seu espírito todos os mais notáveis conhecimentos sobre linguagem e sentimentos. Não era mais homem, agora era verbo. Percebeu que podia se movimentar livremente por aquele espaço abstraído, feito apenas de energia, palavras e sentimentos. Viu sentidos, viu contextos metalinguísticos, passeou nas cavernas mais profundas e insondáveis da linguagem humana. Não existia ali, mais línguas. Era apenas uma língua: A língua humana. Olhou para o “céu” negro e coberto de reticências. Não viu, entretanto, as reticências em si, apenas as sentiu devido a energia qual o céu emanava. Olhou para o “mar”, cheio de travessões. Sua extensão corria para o mais interminável horizonte que podia se sentir em um mundo de metáforas e outras frases. Seu sentindo trazia para a energia do homem (agora metáfora), sentimentos de terror, mas, no fim, uma estranha tranquilidade. Olhou então para si mesmo, e então percebeu do que era feito. “Sou uma metáfora do homem para Deus”, repetiu, sem parar, por dez horas seguidas. Foi então que descobriu que fazia isso sem pensar, era algo de sua natureza... “Eu sou uma metáfora! ” Com o horror, a metáfora percebeu sua importância no mundo. Sem ela, não haveria mais a graça de fazer de alguém um entendido das coisas. “Sou importante! “ Pensou, com orgulho. No entanto, logo a fama se transformou em solidão. Perguntou-se onde estaria outras frases, metáforas, orações... E ficou um tempo pensando. Olhou para as montanhas de advérbios, procurou nos mais profundos vales de orações, mas não achou sequer uma pessoa. Foi então que viu... outra metáfora! Aproximou-se, temeroso de que algum mal pudesse acomete-lo, mas logo viu que não estava em perigo. Esta metáfora que ele via agora era uma associação de mar à vida. “O mar é vida! ”, pensou, e logo sentiu-se bem com essa metáfora. Procurou ficar ao lado dela, por mais tempo possível. Deitaram-se na praia e viram o céu de reticências por horas a fio. Foi então que o homem acordou, e viu-se banhado de suor e deitado na velha cama onde sempre dormia. “Meu Deus! A vida é uma metáfora!”.

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