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23/07/2018 às 10h56min - Atualizada em 23/07/2018 às 10h56min

Presidente do Irã ameaça Trump com ‘ mãe de todas as guerras’

Washington lança ofensiva de informação para desestabilizar Teerã, dizem fontes

O Fato com Agência O Globo

DUBAI — O presidente do Irã, Hassan Rouhani, fez ameaças a Donald Trump por suas políticas hostis a Teerã. Em declaração dada a diplomatas neste domingo, Rouhani alertou para a “mãe de todas as guerras”, informou a agência estatal IRNA. Já em Washington, fontes informaram à Reuters que o governo Trump lançou uma ofensiva de discursos e comunicações on-line, com exageros e distorções, para pressionar o Irã a encerrar seu programa nuclear e o apoio a grupos militantes, como o Hamas e o Hezbollah.

— Senhor Trump, não brinque com o rabo do leão, isso só levará ao arrependimento — ameaçou Rouhani. — A América deveria saber que a paz com o Irã é a mãe de todas as pazes, e que a guerra com o Irã é a mãe de todas as guerras.

 

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Em maio, Trump tomou uma de suas mais polêmicas decisões no cenário internacional ao retirar os EUA do acordo nuclear assinado em 2015 pelo ex-presidente Barack Obama, com apoio de Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia, para que o Irã desativasse seu programa de armas nucleares. Pelos termos do acordo, o Irã se comprometeu a reduzir suas capacidades nucleares em troca da retirada de sanções econômicas e o descongelamento de ativos no exterior.

Desde então, os EUA retomaram a política anterior ao acordo, impondo sanções contra Teerã e membros do governo, além de proibir empresas que operem no Irã a fazer negócios nos EUA. No sábado, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, afirmou ter sido um “claro erro resolver os problemas do país com negociações e laços com os EUA”, pois, como sempre sustentou, “não se pode contar com as palavras e até mesmo com as assinaturas dos americanos”.

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse ter sido um erro negociar com os EUA - - / AFP

Informações exageradas e contraditórias

Segundo fontes no governo americano, Washington colocou um prática uma ofensiva para fomentar a agitação política no Irã. A campanha, apoiada pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, atua em conjunto com a política de retomada das sanções econômicas.

A ofensiva, informaram, funcionários e ex-funcionários do governo americano, trata os líderes iranianos de forma dura, às vezes usando informações exageradas ou que contradizem declarações oficiais. O governo americano não se pronunciou ao ser questionado sobre a ofensiva, mas uma análise dos canais de comunicação oficias na língua persa — falada no Irã, Afeganistão e Tajiquistão — mostra aumento das críticas a Teerã nos últimos meses.

No site ShareAmerica, mantido pelos EUA para disseminar valores ocidentais, o Irã é tema de quatro dos cinco itens em destaque na seção “Combate ao extremismo violento”. A publicação principal diz: “Esta companhia aérea iraniana dissemina violência e o terror”. As outras três manchetes são: “Gráficos compartilháveis sobre a instabilidade no Irã”, “EUA aplaudem legisladores canadenses por condenarem o Irã em razão do terrorismo” e “EUA advertem aliados sobre laços comerciais com o Irã”.

Em declarações recorrentes, Pompeo apela aos iranianos e à diáspora iraniana por pressões contra o governo. Em condição de anonimato, um funcionário do Departamento de Estado afirmou que os EUA não buscam uma “mudança do regime”, mas “mudanças no comportamento do governo iraniano”.

— Nós sabemos que estamos levando o Irã a tomar decisões difíceis. Eles podem mudar seus caminhos ou encontrar cada vez mais dificuldades para manter suas atividades malignas — afirmou a fonte à Reuters. — E nós acreditamos que estamos oferecendo uma visão muito positiva sobre o que podemos conquistar e o que o povo iraniano deveria ter.

Porém, algumas informações disseminadas são incompletas ou distorcidas. Em discurso no dia 21 de maio, em Washington, Pompeo afirmou que líderes iranianos se recusaram a investir no próprio povo os fundos descongelados pelo acordo nuclear, direcionando as verbas para apoiar guerras e a corrupção. Em março, em testemunho diante do Senado, o diretor da Agência de Inteligência da Defesa, Robert Ashley, afirmou que os investimentos sociais e econômicos eram prioridade de curto prazo de Terrã, apesar dos gastos militares.

Pompeo também acusou “milicias e terroristas financiados pelo Irã” de se infiltrarem nas forças de segurança do Iraque, desestabilizando a soberania do país vizinho. Acontece que essas milícias combateram os extremistas do Estado Islâmico e ajudaram a impedir o avanço do grupo terrorista após o colapso do exército iraquiano, em 2014.

Essas milícias, conhecidas como Forças de Mobilização Popular, são por lei parte das forças de segurança do Iraque e apoiaram ofensivas lideradas pelos próprios americanos para recuperar o território iraquiano ocupado pelo Estado Islâmico. Especialistas também afirmam que o governo americano exagera ao relacionar o Irã com os militantes do Talibã e da al-Qaeda.

Mas em vez de forçar as mudanças desejadas por Washington, as sanções econômicas e a campanha de desinformação podem levar recrudescimento do regime de Teerã. Caso Washington consiga forçar outros países a pararem de comprar petróleo do Irã, Rouhani ameaça bloquear o transporte marítimo no Estreito de Homuz, única ligação do Golfo Pérsico com o Oceano Índico.

— Qualquer pessoas que entenda os rudimentos da política não diz: “vamos bloquear as exportações de petróleo do Irã” — provocou o presidente iraniano, em declaração recente. — Nós temos garantido a segurança do transporte marítimo regional ao longo da História.

Após abandonar o acordo nuclear, Washingtou planejou forçar a saída completa do Irã do mercado internacional de petróleo, forçando todos os outros países a pararem de comprar óleo cru iraniano até novembro. Mas depois mudou de posição, afirmando que a sanção não será aplicada a aliados que são dependentes do óleo iraniano.


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