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09/02/2017 às 00h00min - Atualizada em 09/02/2017 às 00h00min

Alagoas e a questão da traição a Pernambuco

O Fato com Reporte Alagoas

Ainda acesa- mas com bem menos querosene para queimar- a questão envolvendo a traição (ou não) de Alagoas, terminando na emancipação em 1817, virou assunto no Instituto Histórico e Geográfico Pernambucano, num 31 de outubro de 1901.

Havia bastante combustível naquela época nesta questão. E bastava uma centelha para explodir em discursos inflamados, quase sempre acompanhados com mensagens de ódio aos alagoanos.

Francisco Augusto Pereira- advogado, jornalista, historiador, político- apresentou no Instituto Histórico pernambucano o ensaio Estudo das Causas Eficientes da Emancipação Política de Alagoas.

Ann Marie Buyers- professora da Ufal- recuperou trechos deste ensaio. O povo alagoano era mesquinho e covarde; renunciou à República; abafou “o grito de suas liberdades”; ficou com a “velha monarquia”.

Eram palavras fortes porque em 1889- o artigo, lembremos, é de 1901- a República foi implantada no Brasil e a simples ideia de defensores da monarquia era tratada como questão capital (Canudos, de Antônio Conselheiro, havia sido massacrada sob o argumento que o profeta era defensor do imperador).

A chama da lamparina tinha bastante queronse para um fogo muito alto.

E numa questão que ardia em Alagoas: traimos ou não?

Varnhagen- historiador dos tempos do Império- recuperava a questão bem antes do Instituto Histórico Pernambucano, mas por um outro ângulo.

Na sua História Geral do Brazil, não se preocupa com a imparcialidade. Suas palavras massacram o padre José Ignácio Ribeiro, o padre Roma, fuzilado em 29 de março de 1817. Em Alagoas, o padre lançou panfletos em apoio à revolução; juntou-se ao comandante das armas, Vitorino Borges da Fonseca.

Varnhagen chama o padre Roma de “inquieto e ambicioso” por apoiar as forças anti-imperiais.

Traição ou não?

A chama do passado se combure neste presente em que Alagoas completa 200 anos. Dois livros- Alagoas, 200, do jornalista Odilon Rios, e 200 anos de Alagoas, análise sócioantropológica, de Ana Cláudia Laurindo- procuram agregar opiniões de estudiosos, intelectuais e gente simples traçando este paralelo com a Alagoas do passado.

Traímos? E traímos quem?

Para o historiador do Império, traímos a Coroa, apesar do beneplático da emancipação. E quem traiu foi regiamente punido com o próprio sangue.

Para um exaltado pernambucano, traímos a república, por isso devemos ser tratados à margem do sistema republicano.

Hoje pode ser tolice dizer se Alagoas traiu a revolta pernambucana há 200 anos e ganhou um presente do imperador (a emancipação). A questão pode ser maior.

Mas, o querosene da lamparina arde na paixão dos discursos. E nestes 200 anos, discutir o passado pode nos fazer bem, ao analisarmos nosso presente ainda por fazer. E o futuro como luz, no fim do túnel.


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